domingo, novembro 18, 2007

Os notáveis

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai e eu também O amarei e me manifestarei a ele.” João 14:21

A amizade acompanha a história de qualquer ser humano. Todos nós, experimentamos, em diferentes intensidades, a amizade e o companheirismo de outras pessoas. Olhando para minha experiência vejo que não existe uma tática para conseguirmos uma nova amizade, geralmente elas surgem inesperadamente. Pessoas que eu não tinha qualquer apreço tornaram-se minhas amigas e, por outro lado, tiveram pessoas que eu desejava ter amizade contudo não consegui cultivá-las. Também percebo que a amizade não surge pronta. Ela começa misturada com vários interesses pessoais. Geralmente iniciamos um relacionamento baseando-o em trocas: troca de atenção, benefícios, tempo, conselhos, etc. Se esse relacionamento amadurece a pessoa em si torna-se mais importante do que ela pode nos oferecer. Passa-se a ter sentimentos e compromisso que ultrapassam os interesses pessoais. A verdadeira amizade não se baseia mais em nós mesmos mas no valor que damos ao outro. Os laços que nos unem já não dependem de dinheiro, respeito, lugar ou freqüência. Tornam-se laços inquebráveis que perduram ao longo do tempo.

Quando penso em amizades concluo que a pessoa em que devo mais investir em relacionar-me é com o próprio Deus. Sei que soa estranho qualificar Deus como um amigo. Afinal de contas como posso ter a presunção de pensar que posso cultivar uma amizade com o ser mais espetacular e inacreditável do Universo? Um ser que justamente por ser Deus não precisa e não depende de absolutamente nada para auto-existir? A experiência de Abraão me ajuda a entender um pouco melhor essa questão. Está escrito: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus.” (Tg 2:23) . Como que Deus pode chamar um homem de amigo? A resposta de Tiago é incrivelmente simples: Abraão acreditou em Deus. Ele creu nas promessas e no propósito do Todo Poderoso. Ao confiar em Deus, Abraão deu um passo decisivo para uma vida intima com o Senhor.

Também penso nas diferentes profundidades que podemos experimentar do amor de Deus. O Senhor Jesus menciona sobre o amor incondicional de Deus pelo mundo perdido no famoso versículo de João 3:16 “Deus amou o mundo e por isso deu o Seu único filho”. Porém, em João 14:21 o Senhor Jesus fala de um amor condicionado; um amor e uma revelação que é exclusiva para aqueles que obedecem aos seus mandamentos. Quando penso nesse tipo de amor especial, lembro-me de Daniel. Pelo menos três vezes nos é dito o quanto Daniel era amado por Deus (Dn 9:23, 10:11,19) : “No principio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado.” Aqui temos uma declaração de amor muito pessoal de Deus a um amigo. Também penso em Paulo e Pedro ambos conseguiram tamanha intimidade com Deus que eles foram avisados da sua morte (II Tm 4:6 e II Pe 1:14). Como todo bom amigo, Deus declara suas intenções e comunga com os seus mais próximos.

Faço então a pergunta. Porque não é fácil sermos amigos de Deus? Tiago também tem a resposta: “a amizade do mundo é inimiga de Deus. Quem quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tg 4:4). Para sermos amigos de Deus temos que abrir mão de muita coisa. Quero muito ser chamado “amigo de Deus” mas será que estou disposto a abandonar parentela, cultura, hábitos e viver em tendas como Abraão fez? Também desejo experimentar as realidades espirituais que Daniel experimentou, mas será que desejo abrir mão das finas iguarias que a Babilônia me oferece? Que tristeza perceber que o conhecimento teórico não é o suficiente para me tornar amigo de Deus! Fico envergonhado por reconhecer que ainda insisto em encontrar um caminho neutro aonde posso ser amigo do mundo e de Deus.

Ao longo de toda historia da humanidade existiram muitos homens que, como Abraão e Daniel, romperam as barreiras da racionalidade e conseguiram experimentar na terra uma vida celestial. Tiveram em Deus seu maior companheiro e isso mudou suas perspectivas de vida. Enquanto para os demais as ordenanças de Deus soam como restritivas para eles são como uma fonte de comunhão. Enquanto todos temem a disciplina de Deus para eles a vara e o cajado servem de consolo. Não obedecem pelo medo mas pelo amor.

Os amigos de Deus são odiados pelo mundo e muitas vezes sofrem profunda rejeição por isso: “Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada, andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados – homens dos quais o mundo não era digno –. Hebreus 11: 37-3a . Aos olhos do mundo são desprezíveis porém isso não os afeta porque sabem que são aprovados por Deus. Vivem com seus pés nesta terra mas com seus corações postos no céu. Por experimentarem um real convívio com Deus, suspiram diariamente pelo momento em que O verão face a face. Suas ambições terrenas cada dia diminuem mais e, por isso mesmo, passam a servir aos outros mais desimpedidamente. E por viverem para servir, não são notados pela maioria. Mas para eles isso também não importa porque sabem que são notados por Deus, seu maior amigo.


“Quanto aos santos que estão na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer.” Salmos 16:3