Ouro de Tolo
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” Mateus 7:21-23
Por volta de 1850, milhares de aventureiros viajaram para o oeste americano em busca de ouro. Eles se aglomeravam com outros tantos milhares de garimpeiros que, abandonando tudo, viajavam para a Califórnia na esperança de mudarem de vida. Ao chegarem aos seus mais variados destinos, os exploradores tinham que aprender que nem tudo que reluz é ouro. Isso porque nos leitos dos rios e em muitas rochas encontrava-se a pirita de ferro; um mineral que devido ao seu brilho e à cor amarelo-dourada parecia muito com o ouro. Com isso os garimpeiros desenvolveram técnicas para saber diferenciar entre os minerais como mordê-la ou riscá-la em alguma rocha para observar qual era a cor do risco feito. Todos temiam o engano. Ninguém desejava, depois de tanto sacrifício e trabalho duro, voltar pra casa com um falso ouro que não valia nada. Fica fácil entender porque a pirita de ferro ficou conhecida como o “Ouro de Tolo”.
Confesso que esse é um pensamento que sempre povoa a minha mente: estou no caminho certo? Estou garimpando o verdadeiro ouro de Deus ou estou sendo seduzido por aparências e enganos? Como tenho autenticado todas as situações ao meu redor? Nenhum peregrino deveria ficar desatento sobre esse assunto. A história da humanidade nos mostra que são as exceções e não a maioria que consegue discernir o real do fictício, a verdade do engano o que é de Deus e o que é imitação diabólica.
A Bíblia cita alguns heróis que souberam procurar pelo verdadeiro ouro no meio de muita falsificação e oposição. Cito apenas alguns:
Noé. Aparentemente o único homem justo e integro no meio de uma geração perversa. Por instrução divina, aparelhou uma arca escapando do castigo que sobreveio a todos. (Gn 6)
Calebe e Josué. Foram as únicas testemunhas oculares da glória e dos prodígios que o Senhor fez no Egito que entraram na Terra Prometida (Nm 13:21-23). Milhares de outras testemunhas morreram incrédulas no deserto.
Elias. Em uma das mais duras fases experimentada por Israel, o próprio Deus revela a Elias que apenas 7000 fieis não dobraram os seus joelhos a Baal (I Rs 19:18).
Daniel. Jerusalém foi destruída e os judeus foram levados cativos à Babilônia, Daniel e seus amigos conservaram-se puros e resolveram firmemente não se contaminarem com o novo estilo de vida oferecido a eles (Dn 1).
Zorobabel. O exílio na Babilônia terminou. Deus abre as portas para que Seu povo volte à Jerusalém. Uma minoria liderada por Zorobabel decide voltar e reconstruir a cidade do grande Rei (Es 2:1-2).
Temos a tendência de condenar a infidelidade do povo de Israel no passado como se a Igreja não corresse os mesmos riscos. O Espírito Santo dá uma rasteira em tal pensamento ao afirmar explicitamente que o que aconteceu no passado pode acontecer conosco também: “Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. Aquele pois, que pensa estar de pé, veja que não caia”( I Co 10:11-12). É como se Paulo estivesse dizendo: “Aquele pois, que pensa estar se enriquecendo, certifique-se de que seja do ouro verdadeiro.”
Sobre esse assunto tenho muito que falar, meus pensamentos gritam cada vez mais alto diante da eminente revelação do iníquo. Da forma como enxergo as escrituras, concluo que, infelizmente, a Igreja tem perseguido o brilho do falso ouro. Temos gasto tanto tempo, tanta energia garimpando em locais distantes do centro da vontade de Deus... A passagem postada no inicio deste texto deveria, no mínimo, gerar uma temerosa reflexão diante do Senhor sobre o que temos buscado.
Quando fico atordoado com as confusões ao meu redor corro para as escrituras com a certeza que encontrarei nelas uma âncora segura para a minha fé. Ali, lendo e pensando nesses verdadeiros servos de Deus aprendo valiosas lições sobre o nosso caminhar nesta terra. Vejo que quase sempre o ouro de Deus está longe da multidão. Geralmente o povo se contenta com o brilho e a aparência da pirita de ferro. Não testam o mineral. Acham-se ricos quando na verdade são pobres. Ao contrário dos acomodados que seguem o fluxo das tendências e correm atrás das doutrinas da moda penso nos verdadeiros garimpeiros que assim como Noé, Elias e Daniel experimentaram a solidão e o desprezo dos demais. Porém, perseveraram até o final recebendo a justa recompensa pela sua jornada. Definitivamente a voz do povo não é a voz de Deus.
Falando assim, não quero deixar a impressão que eu tenha o “mapa da mina” até mesmo porque creio que o Senhor nâo o revela de uma vez mas dia-a-dia durante a nossa peregrinação. Dessa forma, continuo a minha viagem rumo à Nova Jerusalém, tentando me enriquecer do verdadeiro ouro para que, quando chegar diante do meu Senhor, eu tenha algo de valor para lhe apresentar.
“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém queimar, sofrerá ele o dano; mas esse mesmo será salvo; todavia como que através do fogo.” I Coríntios 3: 11 - 15
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