segunda-feira, outubro 23, 2006

Perdido mas não desamparado

“Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.” Lucas 15: 24

Ainda muito criança (talvez uns 05 anos) fiquei perdido dentro de um hiper-mercado. Não sei como aconteceu. Provavelmente fiquei encantado com algum brinquedo e me afastei da segura presença da minha mãe. Quando tentei achá-la, já era tarde, os meus olhos não conseguiam vê-la e a paz subitamente deu lugar ao desespero. Não me lembro quanto tempo eu fiquei perdido ou se eu chorei, mas até hoje, consigo lembrar da minha angústia por estar perdido. Ali naquele lugar, havia muitas pessoas mas eu me senti só, havia muitas coisas mas me senti vazio. Nada mais me interessava ao não ser encontrar a minha mãe.

Quando eu era mais novo, acreditava que a conversão era o fim do caminho, o objetivo final do homem. Mas hoje, penso que é exatamente o contrário: é o início da jornada do homem rumo a Deus. A falta de profundeza na teologia moderna produziu uma espécie de cristão que diz: “se eu for lixeiro no céu está bom demais! O importante é não ir para o inferno.” Esse pensamento pequeno e egoísta revela uma absoluta falta de compreensão do propósito de Deus que além de nos oferecer a salvação também restaura a nossa comunhão com Ele.

O capítulo 15 do evangelho de Lucas é um exemplo claro do coração do Pai. Nesta passagem, o Senhor Jesus conta três parábolas: da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho perdido. As três estórias possuem uma estrutura semelhante: o sentimento de perda e o júbilo pelo reencontro da coisa perdida. Para mim, o ponto central deste capítulo não é o objeto perdido mas sim a alegria do pastor, da mulher e do pai ao reencontrar aquilo que lhes era importante. A ovelha é uma figura da nossa fragilidade e dependência (I Pe 3:25). A moeda fala do nosso valor diante de Deus (Ef 1:18). E o filho nos diz da nossa nova filiação e posição conquistada na obra do calvário (Rm 8:15). O que mais me constrange nestas passagens é o coração de Deus: apesar de tantas ovelhas, Ele busca aquela que fugiu do aprisco. Apesar de ser tão rico, Deus procura diligentemente por uma moeda perdida. Apesar de tantos filhos, Deus suspira e corre em direção do filho arrependido que volta pra casa. O nosso Deus é um Deus que deseja ter comunhão.

Naquele dia no hiper-mercado eu me senti vulnerável. Voltei os meus olhos em procura da minha mãe porque sabia que nada mais fazia sentido naquele momento. Não me lembro como a encontrei, mas sei que, na verdade, fui encontrado. Tenho visto pessoas bem próximas de mim perdidas, vagueando nos corredores da vida fascinadas com distrações baratas sem perceber que se afastaram do Pai. Não percebem que, como ovelhas que são, precisam da proteção do Bom Pastor. Correm errantes além dos limites seguros e mal sabem que há dor e morte nos atalhos escolhidos.

Que grande mistério Deus nos tem revelado! Além de nos salvar Ele também deseja manter comunhão com o homem. Como compreender essa verdade? Como entender, em profundidade, o amor do Mestre do Universo por nós? Talvez essa seja uma das maiores verdades do evangelho: o homem pode estar perdido mas nunca estará abandonado.


“Se voltares, ó Israel, diz o Senhor, volta para mim; se removeres as tuas abominações de diante de mim, não mais andarás vagueando.” Jeremias 4:1

“Os resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião com cânticos de jubilo; alegria eterna coroará as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.” Isaías 35:10