Labirinto
“Então perguntou Jesus aos doze: Porventura quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor para quem iremos?” João 6:67,68
Talvez a pior experiência física que passei na minha vida foi quando tive labirintite. Eu tinha 22 anos e, depois de uma noite de sono normal, acordei com o mundo todo girando. Não conseguia ficar com os olhos abertos. A sensação era que eu tinha acabado de sair de uma roda gigante e não conseguia me equilibrar. Devido às fortes tonturas, vomitava tudo que eu colocava na boca. Após dois dias sem melhoras parei no hospital onde fui medicado. Após uns cinco dias voltei à vida normal apesar das tonturas que terminaram completamente quase um mês depois. Foram dias dificílimos de suportar. Ao não conseguir nem sequer abrir os olhos fiquei algemado aos meus pensamentos por um período que pareceu uma eternidade.
Quando voltei ao médico, aprendi que a causa do meu distúrbio foi uma afecção no meu labirinto também conhecido como ouvido interno. Os médicos escolheram esse nome devido a sua complexa estrutura óssea que lembra um labirinto. O sistema labiríntico é a central de informações, que recolhe os impulsos de todos os sensores do sistema nervoso central e as recebe para serem analisadas. Também aprendi que existem dezenas de causas que podem gerar esse distúrbio: álcool, drogas, impactos na cabeça, anemia, alergias e até distúrbios psiquiátricos. Depois dessa experiência passei a valorizar mais meu senso de equilíbrio e direção.
Penso que existe também uma aplicação muito prática dessa figura para a vida espiritual do cristão. Precisamos ter um senso de direção muito sadio caso contrário ficaremos dando voltas sem qualquer avanço. Pior, nossa vida espiritual entrará em um processo de tontura que trará náuseas e desconforto ao nosso espírito. Como acontece com um bêbado que perde todo o senso do meio em que está, voltaremos para o nosso próprio vômito e lamentaremos nosso estado incapazes de alterar nossa realidade.
Quando o povo de Israel saiu do Egito, fazia parte do propósito de Deus que eles passassem pelo deserto (Ex 13: 17,18) mas não que eles peregrinassem pelo deserto por quarenta anos. No caso dos israelitas foi a incredulidade que afetou o senso de direção impedindo-os de alcançarem a promessa (Nm 14: 21-23). Assim como existem dezenas de causas para afetar o nosso labirinto, o nosso senso de direção espiritual pode ser afetado tirando-nos da rota certa e levando-nos para caminhos escuros e tortuosos.
O Senhor no sermão do monte adverte aos seus discípulos que o caminho que nos leva à vida é estreito e são poucos os que se acertam com ela (Mt 7:13). O que configura um labirinto é justamente o fato de que existem muitas possibilidades e caminhos porém uma única saída. Deus não deseja que fiquemos confusos quanto à direção que devemos tomar e Ele deixa claro na Sua palavra. Jesus Cristo, o Seu filho é o caminho (Jo 14:6) e não somente o único caminho mas também Ele é a porta: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo” (Jo 10:9).
Toda vez que me sinto vagueando sem direção e perdido, sei que estou precisando da bússola do Espírito Santo para me re-conduzir a Cristo. Posso estar envolvido com atividades religiosas, reuniões, pregação e tantas outras coisas que não são garantias que estou no caminho certo. Todas as minhas atividades devem ser feitas com a absoluta aprovação de Deus e com a certeza de que são fruto de uma orientação sóbria que me conduz pelo caminho correto. Muitas vezes a minha carne e o meu pecado me levam a becos escuros e a encruzilhadas que parecem sem saída. Porém, toda vez que reconheço meu mau caminho e retorno a Cristo, o Espírito Santo volta a me guiar pelo caminho eterno (Sl 139: 23,24).
E assim, milhares de peregrinos continuam sua jornada durante a noite, contando com a bondade divina para os proteger das ciladas das trevas até que nasça o Sol da justiça.
“O caminho dos perversos é como a escuridão: nem sabem eles em que tropeçam. Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Provérbios 4: 19,18
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