segunda-feira, outubro 01, 2007

O poder do silêncio

“Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso em silêncio.” Lamentações 3:27

Conta-se a história de um turista que, ao observar um devoto judeu orando diante do Muro das Lamentações, ficou curioso com aquele momento. Quando o judeu terminou de orar, o turista se aproximou e perguntou:
- Não pude deixar de reparar o seu momento de oração. Vi com que fervor o senhor estava batendo no peito e levantando as mãos e fiquei curioso; para que o senhor ora?
O judeu responde:
- Oro pela justiça. Oro pela saúde de minha família. Oro pela paz no mundo, especialmente em Jerusalém.
- E como você se sente? - quis saber o turista.
- Me sinto como que falando com uma parede.
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Acredito que todo cristão em algum momento da sua peregrinação já teve o mesmo sentimento do judeu da história acima. Por quase dois anos acompanhei a luta do meu sogro contra o câncer. Durante esse longo período nossa família trilhou diversos caminhos sempre na tentativa de alcançar o favor de Deus. Às vezes ficávamos eufóricos e esperançosos quando alguém contava um sonho que interpretávamos como resposta de Deus.Também ficávamos confusos e sem reação a cada exame que indicava a progressão teimosa da doença. Lutamos até o final. Oramos até o final. Então, veio o silêncio.

Neste pensamento, estou chamando de silêncio aquele momento de total perplexidade em que nossa fé se depara com uma encruzilhada. Se apresentam dois caminhos distintos: o primeiro é o caminho que afasta nossa fé de Deus. È o caminho da racionalidade humana. O seu destino é a incredulidade, o esfriamento e a decepção com Deus e com a Sua vontade. O outro caminho segue uma direção diametralmente oposta: é o caminho da fé irrestrita; do prosseguir mesmo não compreendendo os motivos; É o correr em direção a Deus com mais vigor e intensidade do que antes.

Acredito que todos os filhos de Deus irão experimentar em sua jornada esse momento de absoluto silêncio em que um caminho precisa ser escolhido. Aconteceu isso com Jó. Depois de muito falar, a escritura diz: “Fim das palavras de Jó” Jó 31:40b. Apenas quando Jó chegou no seu momento de silêncio a sua história mudou de curso. Assim como aconteceu com Jó nem sempre o Senhor nos explicará os “por quês” mas precisamos crer que em todas as coisas que nos sucedem existe um “para que”.

C.S.Lewis dizia que o sofrimento é o alto-falante de Deus. Parafraseando sua figura eu diria que quando a nossa alma fica em silêncio o Senhor nos oferece uma luneta para O contemplarmos de uma maneira mais próxima. Isso só é possível quando nos esvaziamos de toda lógica humana. Quando abandonamos os questionamentos oriundos de pensamentos corrompidos, desvirtuados e completamente limitados.

Falando assim parece ser fácil, mas definitivamente não o é. As incertezas tentam violentamente afundar nossa fé no sombrio mar da incredulidade. São nesses momentos de crise que nossa alma precisa se decidir como usaremos a luneta. Se tentarmos usar a luneta para olharmos a nós mesmos, veremos a Deus com o lado errado da luneta. Um Deus reduzido, pequeno e distante será toda a nossa conclusão.

Sei que a minha fé ainda passará por muitas provações. Sei que o Senhor não responderá todas as minhas indagações na velocidade ou na maneira que espero. Sei que ainda vou espernear, questionar e reclamar bastante. Porém na minha experiência, posso testemunhar que todas as vezes que passo por essas crises uma luneta se me apresenta. E surge uma possibilidade de enxergar a Deus de uma maneira renovada. Então, humilhado pela minha pequenez permaneço em silêncio. Resignadamente, enxugo as lágrimas dos olhos e aproximo-me da luneta como que reconhecendo que não existe outro remédio para minha alma. E, meio que despretensiosamente, começo a procurar por Ele. Ao procurá-Lo já começo a me sentir melhor. Minha fé se anima, meu coração se esquenta e a esperança renasce. Finalmente o encontro! Meu espírito sente a Sua presença e se enche de gozo. Corro em Sua direção agarrando-me em Seus braços. Ao abraçá-Lo o Espírito Santo dentro de mim confirma que estes são os braços de meu Pai. Já aquietado em Seu colo, com meu cálice transbordando de um sentimento inexplicável percebo que estou em paz. Já não preciso de respostas ou de explicações. O silêncio já não me incomoda mais. A Sua graça me bastou.

Então, o silêncio finalmente é quebrado com a chegada da adoração.

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações sou exaltado na terra.” Salmos 46:10