segunda-feira, maio 24, 2010

Contextos - Parte I

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” Hebreus 4:12

Muitas e muitas vezes tenho visto pessoas ao meu redor sendo orientadas pelo contexto que vivem: “vou tentar entrar sem visto se eu conseguir passar pela alfândega foi porque é da vontade de Deus pra mim” ou “recebi uma proposta de emprego irrecusável para trabalhar em outra cidade, não acredito que Deus permitiria uma oportunidade dessa na minha vida se não fosse da Sua vontade” ou ainda “foi amor à primeira vista, tudo deu certo para que ficássemos juntos isso só pode ser de Deus.” Poderia listar tantas outras situações ordinárias que nos dão a impressão que as “portas se abriram” e, então, concluímos apressadamente que vem de Deus.

As escrituras nos dão alguns exemplos de que não devemos confiar no contexto ou até mesmo em profetas que fazem sinais e prodígios porém ensinam falsas doutrinas. Em Deuteronômio 13:1- 4 o próprio Senhor nos alerta da possibilidade Dele permitir a atuação e a confirmação de sinais de falsos profetas para nos “provar, para saber se amais ao Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, e de toda a vossa alma” (vs 3). Definitivamente não devemos estribar nossas decisões nas circunstâncias: “o justo viverá pela fé” de maneira que a bússola que orientará as suas decisões deve ser os princípios e os valores explicitados na Bíblia e não em qualquer outra pessoa ou situação.

Para mim, o maior exemplo de como o contexto pode ser enganoso, nos é relatado em I Samuel 24. O rei Saul, movido por um ciúme maligno, realizou várias tentativas de matar a Davi (o futuro rei de Israel já ungido e designado pelo Senhor). Em uma de suas campanhas contra Davi, Saul entra em uma caverna para “aliviar o ventre” sem saber que o próprio Davi e seu exército estão escondidos no interior da caverna. Ao verem Saul se despindo da sua armadura e dos seus trajes de guerra a conclusão dos homens de Davi parece ser a mais óbvia: “então os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia, do qual o Senhor te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo e far-lhe-á o que bem te parecer” (vs 4). Finalmente havia chegado o dia da vingança! Após tantas traições e tentativas de homicídio finalmente se cumpriria as promessas de Deus! Porém essa não foi a conclusão de Davi. Ele já conhecia o suficiente ao Seu Senhor para saber qual era a Sua vontade: “disse Davi aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal cousa ao meu Senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor. Com estas palavras Davi conteve os seus homens e não lhes permitiu que se levantassem contra Saul” (vs 6,7). Que homem foi Davi! Apesar de ter sido um grande herói de guerra capaz de lutar destemidamente ele não levantou a sua espada contra aquele que por quase dez anos tentou tirar a sua vida. Não tenho dúvidas de que, naquela caverna, Deus testou a fé de Davi. O Senhor preparou todo um cenário favorável para que Davi matasse a Saul. Davi foi provado e optou pela obediência a despeito do contexto. Seu coração cada vez mais pertencia a Deus. O período de preparação estava terminando e, em breve, Davi se tornaria no maior rei da história de Israel.

Tento me colocar naquela caverna escura e úmida. Qual seria a minha conclusão se eu estivesse ali? Agiria como um dos homens de Davi julgando que a situação vinha do Senhor? Discerniria adequadamente o cenário? Quanto mais conhecermos a palavra de Deus mais capacitados estaremos para distinguir os contextos. Porque a palavra de Deus não muda. Seus princípios são eternos e servem de âncora para nossa fé. Não devemos confiar em nossos “achismos”, sentimentos ou circunstâncias. Apenas a Palavra de Deus é capaz de lançar luz aos pensamentos e propósitos do coração.

Às vezes chegamos em um oásis e acreditamos que “é de Deus” outras vezes rejeitamos o deserto acreditando que Deus nunca nos levaria vivenciar experiências tão desafiadoras. Não devemos ser tão rápidos em nos mover. Porque melhor nos será estarmos no deserto com Deus do que no oásis com o diabo. Melhor é a caverna com Deus do que todo um reino sem Ele.

“o Senhor teu Deus te guiou no deserto para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no seu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.” (Dt 8:2)