segunda-feira, janeiro 14, 2008

Calafrios

Senhor, para quem iremos? tu tens as palavras de vida eterna. João 6:68

Naturalmente não sou uma pessoa muito ansiosa ou estressada, mas já tive meus calafrios emocionais. Aqui, não estou mencionando os calafrios que temos quando estamos febris ou quando sentimos frio. Estou chamando de calafrio emocional aquela sensação estranha que sentimos quando pensamos em situações difíceis do cotidiano e que parece correr por todo nosso corpo terminando com uma fincada bem no coração. Lembro-me dos meus calafrios na época de engenharia quando deitava na cama e sabia que não estava preparado para a prova de cálculo no dia seguinte ou quando pensava no meu namoro que estava a beira do fim ou quando calculava meus custos e via que não teria dinheiro para pagar todas as contas do mês. Se eu sou uma pessoa normal (e eu acho que sou) acredito que outras pessoas também já tiveram seus calafrios emocionais. Sendo assim, no começo de mais um ano eu me perguntei – hoje, o que me faz ter calafrios? Li uma frase atribuída ao Santo Agostinho que diz: “O calafrio que você sente quando pensa em não ver mais a face de Deus é proporcional ao seu amor por Ele.”

Ao ler essa frase perdi a graça. Me senti como que atravessado por uma flecha. Eu estava de férias porém me senti cansado. Apesar da aparente tranqüilidade me senti sobrecarregado. Fechei o livro na hora. Sabia que alguma coisa havia me capturado e que eu precisava parar para meditar. Não sei porque mas naquele momento fiz uma viagem ao meu passado. Tentei me lembrar dos momentos mais felizes da minha vida. E o que eu percebi foi surpreendente – todos os meus momentos marcantes estão diretamente relacionados com Deus. Pude perceber que, por melhor que seja possuir coisas, não tenho saudades de nenhuma delas como meu primeiro carro, videogame ou bicicleta. Olhando para trás vi que nada disso marcou a minha vida. Tudo isso é descartável porque é passageiro. Ao mesmo tempo percebi que todas as coisas na minha vida que são verdadeiramente preciosas possuem a participação ativa de Deus. Amizades, casamento, igreja ou qualquer outra coisa não me marcará profundamente se Deus não estiver entronizado em cada uma delas. Tudo passará e será pura vaidade. Só Ele tem as palavras de vida eterna. Apenas o próprio Deus, e mais nada ou ninguém, poderá depositar em meu coração experiências que nunca passarão.

Conclui (mais uma vez) que vale a pena investir em buscar a face de Deus. Se os melhores momentos do meu passado foram com Ele devo intensificar minha busca por Ele para que meu futuro seja ainda melhor. Preciso renovar o meu chamado para andar por essa terra como um peregrino me desapegando cada vez mais do que é terreno e me aproximando do que é eterno, invisível e espiritual “não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais e as que se não vêem são eternas” (II Co 4:18). Buscar a face de Deus deve ser a minha maior ambição.

Naquela tarde meditando na frase de Agostinho fiquei inquieto em responder para mim mesmo essa pergunta: mais um ano se passou e um novo ano se inicia... e o meu Senhor ainda não retornou... nesses dias em que Sua vinda se apresenta tão iminente o que me faz ter calafrios?

“Conjuro-vos ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor.” Cantares 5:8