terça-feira, outubro 30, 2007

O maior dos milagres

“Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal nos vossos corações? Pois qual é mais fácil dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar os pecados – disse então ao parlíitico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. E, levantando-se, partiu para sua casa.” Mateus 9:2-7

Vivemos a era da informação. As notícias nascem e morrem em questão de minutos. Com o advento da internet podemos nos atualizar em tempo real sobre tudo o que acontece no mundo. Tantas coisas tentam nos atrair e cada vez é mais feroz a luta pela nossa atenção e pelo nosso tempo. O que era extraordinário ontem, hoje é comum. O que no passado era moda, no presente caiu na mesmice. Todas as coisas precisam ser cercadas pelo fantástico, pelo espetacular caso contrário não conseguem cativar nossa atenção.

Infelizmente esse ritmo mundano tem mais do que influenciado o caminho dos peregrinos nesta terra, tem determinado e modelado nosso estilo de vida cristã. Precisamos produzir cultos dinâmicos e envolventes caso contrário não existe um legítimo interesse da audiência. O período de louvor outrora espontâneo tornou-se em um roteiro milimetricamente planejado para conduzir a assembléia a um certo êxtase coletivo, eliminando qualquer possibilidade da intervenção do Espírito Santo no curso da reunião. Os pregadores têm usado das mais variadas estratégias de marketing para conquistar a atenção da platéia preocupando-se mais com as técnicas do que com a unção. De maneira geral, nossas reuniões geram entretenimento, mas não geram santidade. Nos tornamos pessoas supérfluas, distraídas por atividades religiosas que ocupam o nosso tempo mas não preenchem o nosso espírito.

No texto citado acima, Mateus descreve uma situação que tipifica o que tenho tentado expressar. Para o Senhor Jesus a maior benção que aquele homem poderia receber não era a de voltar a andar mas a de voltar à Deus. Era a benção de ter os seus pecados perdoados. O homem natural valoriza mais as coisas visíveis do que as invisíveis e foi necessário curar o paralitico para demonstrar aos escribas que sua autoridade fora conferida pelo próprio Deus. Quem pede por sinais são os incrédulos e os maus (Mt 16: 4). Hoje, sinto que corro esse mesmo risco. O perigo de superdimensionar pequenos milagres e me esquecer do maior e mais inacreditável milagre que me aconteceu – o perdão dos meus pecados. Temo que um dia a minha gratidão por Deus se esgote porque me distraí procurando por pequenos sinais da benção de Deus e me esqueci de agradecer pela maior benção de todas – Jesus Cristo e a sua obra redentora na cruz.

Nestes dias em que se buscam novidades e coisas espetaculares, eu busco encontrar o extraordinário nas velhas coisas já reveladas nas escrituras. Deus não precisa me entreter. Ele já chamou a minha atenção através do Seu perdão. Deus não precisa fazer nenhum outro sinal. No calvário, Ele já provou que me ama. O perdão dos meus pecados e a minha salvação é o maior de todos os milagres que eu jamais poderei me esquecer.

“Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados.” Apocalipse 1:5

segunda-feira, outubro 22, 2007

Deformações

“Um só é legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu porém quem és que julgas ao próximo?” Tiago 4:12

Estou lutando com minha visão tem algum tempo. Comecei a usar óculos e o problema não resolvia completamente; continuava vendo as coisas embaçadas e com dificuldade. Finalmente descobri o meu problema: estou com ceratocone. Segundo a wikipédia: “O ceratocone pode ser definido de forma geral como uma deformação coniforme da córnea em forma de ectasia. É uma desordem ocular não-inflamatória que afeta a forma da córnea, provocando a percepção de imagens distorcidas. A dificuldade na percepção das imagens é similar à provocada pelo astigmatismo e nos casos mais avançados a visão é muito baixa ou totalmente borrada. Não há consenso a respeito da origem da patologia, acredita-se que tenha relação com o hábito de coçar os olhos em pacientes com rinite alérgica”.

O que me chamou muito atenção foi o fato que eu tenho ceratocone apenas no olho direito enquanto que meu olho esquerdo enxerga perfeitamente. Mas como isso é possível? Nas minhas crises alérgicas os meu dois olhos sofreram com as minhas mãos. Nunca poupei um em detrimento do outro, nunca “protegi” o meu olho esquerdo. Os dois coçaram. Os dois foram esfregados. Os dois sofreram as mesmas pressões. Por que então um olho está tão danificado e outro quase não tem nenhuma seqüela? Após exames veio a resposta: minha córnea direita é muito mais fina que a minha córnea esquerda. Até agora não sei se me acho “meio sortudo” por ter uma córnea grossa ou “meio azarado” por ter uma córnea tão frágil, mas o fato em questão é que os meus olhos não são iguais e o que causou dano para um não causou para o outro. A pressão atuou de maneira diferentes neles.

Após sair do médico fiquei pensando que se eu soubesse que meu olho direito era tão frágil não teria o coçado com tanta força tantas vezes. Para não machucá-lo teria sido mais gentil. Teria feito de tudo para poupá-lo e com isso seria beneficiado com a sua visão. Apesar da sua debilidade, continuo apreciando o meu olho. Não o desprezo, pelo contrário, desde o dia em que soube do problema passei a tomar cuidado com ele. Estou adquirindo uma maior sensibilidade e consideração por saber que ele não agüenta a pressão.

Meus pensamentos também me levaram a concluir que não tenho o direito de julgar as reações de ninguém. Não é porque agüento uma determinada pressão que meu irmão também irá agüentar. Possuímos estruturas diferentes e por isso mesmo reagimos de maneira diferente. Quando condeno alguém por não reagir da forma que eu esperava, demonstro uma ignorância maligna que despreza variáveis e situações que estão fora da minha percepção. É por isso que Deus é o único capaz de “Julgar retamente” (I Pe 2:23), apenas Deus conhece todas as circunstâncias que nos pressionam e quais são as nossas verdadeiras motivações.

Meu olho direito era perfeito mas tornou-se debilitado porque eu não me atentei para a finura da sua córnea. Quando aceitamos as deformações mútuas paramos de questionar a “fragilidade da córnea alheia’ e passamos a nos preocupar em preservá-la para que ela não continue se deformando e perca ainda mais a visão. Assim, de acusadores passamos a intercessores; de impiedosos a misericordiosos; de senhores a conservos; de opositores a colaboradores.

É provável que as deformações continuarão existindo em nossas vidas, porém naquilo que sou forte ajudarei o fraco na sua debilidade e vice-versa. E, assim, juntos, enxergaremos com clareza.


“Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: nós vemos, subsiste o vosso pecado.” João 9:41

“O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor guarda o peregrino.” Salmos 146:8-9a

segunda-feira, outubro 15, 2007

Ouro de Tolo

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” Mateus 7:21-23

Por volta de 1850, milhares de aventureiros viajaram para o oeste americano em busca de ouro. Eles se aglomeravam com outros tantos milhares de garimpeiros que, abandonando tudo, viajavam para a Califórnia na esperança de mudarem de vida. Ao chegarem aos seus mais variados destinos, os exploradores tinham que aprender que nem tudo que reluz é ouro. Isso porque nos leitos dos rios e em muitas rochas encontrava-se a pirita de ferro; um mineral que devido ao seu brilho e à cor amarelo-dourada parecia muito com o ouro. Com isso os garimpeiros desenvolveram técnicas para saber diferenciar entre os minerais como mordê-la ou riscá-la em alguma rocha para observar qual era a cor do risco feito. Todos temiam o engano. Ninguém desejava, depois de tanto sacrifício e trabalho duro, voltar pra casa com um falso ouro que não valia nada. Fica fácil entender porque a pirita de ferro ficou conhecida como o “Ouro de Tolo”.

Confesso que esse é um pensamento que sempre povoa a minha mente: estou no caminho certo? Estou garimpando o verdadeiro ouro de Deus ou estou sendo seduzido por aparências e enganos? Como tenho autenticado todas as situações ao meu redor? Nenhum peregrino deveria ficar desatento sobre esse assunto. A história da humanidade nos mostra que são as exceções e não a maioria que consegue discernir o real do fictício, a verdade do engano o que é de Deus e o que é imitação diabólica.

A Bíblia cita alguns heróis que souberam procurar pelo verdadeiro ouro no meio de muita falsificação e oposição. Cito apenas alguns:

Noé. Aparentemente o único homem justo e integro no meio de uma geração perversa. Por instrução divina, aparelhou uma arca escapando do castigo que sobreveio a todos. (Gn 6)

Calebe e Josué. Foram as únicas testemunhas oculares da glória e dos prodígios que o Senhor fez no Egito que entraram na Terra Prometida (Nm 13:21-23). Milhares de outras testemunhas morreram incrédulas no deserto.

Elias. Em uma das mais duras fases experimentada por Israel, o próprio Deus revela a Elias que apenas 7000 fieis não dobraram os seus joelhos a Baal (I Rs 19:18).

Daniel. Jerusalém foi destruída e os judeus foram levados cativos à Babilônia, Daniel e seus amigos conservaram-se puros e resolveram firmemente não se contaminarem com o novo estilo de vida oferecido a eles (Dn 1).

Zorobabel. O exílio na Babilônia terminou. Deus abre as portas para que Seu povo volte à Jerusalém. Uma minoria liderada por Zorobabel decide voltar e reconstruir a cidade do grande Rei (Es 2:1-2).

Temos a tendência de condenar a infidelidade do povo de Israel no passado como se a Igreja não corresse os mesmos riscos. O Espírito Santo dá uma rasteira em tal pensamento ao afirmar explicitamente que o que aconteceu no passado pode acontecer conosco também: “Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. Aquele pois, que pensa estar de pé, veja que não caia”( I Co 10:11-12). É como se Paulo estivesse dizendo: “Aquele pois, que pensa estar se enriquecendo, certifique-se de que seja do ouro verdadeiro.”

Sobre esse assunto tenho muito que falar, meus pensamentos gritam cada vez mais alto diante da eminente revelação do iníquo. Da forma como enxergo as escrituras, concluo que, infelizmente, a Igreja tem perseguido o brilho do falso ouro. Temos gasto tanto tempo, tanta energia garimpando em locais distantes do centro da vontade de Deus... A passagem postada no inicio deste texto deveria, no mínimo, gerar uma temerosa reflexão diante do Senhor sobre o que temos buscado.

Quando fico atordoado com as confusões ao meu redor corro para as escrituras com a certeza que encontrarei nelas uma âncora segura para a minha fé. Ali, lendo e pensando nesses verdadeiros servos de Deus aprendo valiosas lições sobre o nosso caminhar nesta terra. Vejo que quase sempre o ouro de Deus está longe da multidão. Geralmente o povo se contenta com o brilho e a aparência da pirita de ferro. Não testam o mineral. Acham-se ricos quando na verdade são pobres. Ao contrário dos acomodados que seguem o fluxo das tendências e correm atrás das doutrinas da moda penso nos verdadeiros garimpeiros que assim como Noé, Elias e Daniel experimentaram a solidão e o desprezo dos demais. Porém, perseveraram até o final recebendo a justa recompensa pela sua jornada. Definitivamente a voz do povo não é a voz de Deus.

Falando assim, não quero deixar a impressão que eu tenha o “mapa da mina” até mesmo porque creio que o Senhor nâo o revela de uma vez mas dia-a-dia durante a nossa peregrinação. Dessa forma, continuo a minha viagem rumo à Nova Jerusalém, tentando me enriquecer do verdadeiro ouro para que, quando chegar diante do meu Senhor, eu tenha algo de valor para lhe apresentar.

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém queimar, sofrerá ele o dano; mas esse mesmo será salvo; todavia como que através do fogo.” I Coríntios 3: 11 - 15

terça-feira, outubro 09, 2007

À procura de Deus

“Fui buscado dos que não perguntavam por mim, fui achado daqueles que não me buscavam; a um povo que não se chamava do meu nome eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui.” Isaias 65: 1

Recentemente, um irmão me fez a seguinte indagação: “ Tenho perguntado sobre isso a muitas pessoas e ninguém me deu uma resposta satisfatória; afinal de contas, como faço para buscar a Deus?” Esse tipo de pergunta todo cristão com alguns anos de vida cristã responde facilmente. No meu caso não foi diferente, comecei dizendo da importância da oração, do devocional diário , do reunir etc. Mas enquanto eu falava percebi que todas aquelas coisas ele já sabia, eu não estava dizendo nada de novo. Ele não precisava de teoria isso ele já tinha e, obviamente, não estava o levando até a Deus. Aprender a cultivar a presença de Deus deveria ser um tema prioritário em nossas meditações. Mas como procurar um ser onipresente?

Jonas aprendeu sobre a onipresença de Deus da maneira mais difícil. Escondido dentro do porão de um barco tentando fugir “para longe da presença do Senhor” (Jn1:3) ele percebeu que “os olhos do Senhor estão em todo lugar contemplando os maus e os bons (Pv 15:3)”. E, depois de um tratamento super-intensivo de três dias, ele também aprendeu que os ouvidos do Senhor estão abertos para ouvir as súplicas do quebrantado seja aonde for – dentro do metrô, de um banheiro público ou dentro do ventre de um peixe. Davi também desistiu de fugir de Deus: “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? ( Sl 139: 7)”.

Seria mais prático se existe um formato pré-concebido para buscar a Deus, uma espécie de roteiro que dispensasse sinceridade e desejo deixando apenas o esforço. Mas se isso acontecesse não desenvolveríamos um relacionamento saudável, pessoal e respeitoso com Ele. Como o gênio da lâmpada, Deus se tornaria um escravo de nossas vontades, tempo e decisões. Por isso, apesar de Deus estar ao nosso lado em todo o lugar e em todo o tempo, cada um de nós precisa exercitar a sua fé para sentí-Lo, vê-lo e ouví-Lo caso contrário não O perceberá.

Diante disso, consigo compreender um pouco melhor quando o Senhor Jesus lamentou quando chegou em Jerusalém. Ali nos é revelado algo do caráter divino. Deus compara seu sentimento para com o homem com o sentimento de proteção e cuidado que a galinha tem pelos seus pintinhos. Ao usar a figura de um animal, talvez o Senhor estivesse querendo nos mostrar que o Seu sentimento transcende a razão. É instintivo, é incondicional, faz parte do seu ser.

Naquela noite com aquele irmão, só pude falar um pouco da minha experiência pessoal. De como luto para quebrar paradigmas que foram incutidos na minha cabeça desde a infância sobre o “buscar a Deus.” Antes eu separava aquilo que era “espiritual” e aquilo que era “secular” no meu cotidiano. Entendia que em alguns momentos do meu dia eu poderia “buscar a Deus” e em outros momentos eu teria que fazer as coisas necessárias como estudar ou trabalhar. Hoje eu me esforço para percebê-Lo o tempo todo. Comer, dormir, namorar, jogar futebol , passear no shopping podem produzir experiências tão reais com Deus como participar de cultos, ler a bíblia ou evangelizar. Por quê? Porque Deus deseja se relacionar comigo em todo o tempo e em todo lugar. Deus não vai embora quando vou almoçar ou dormir. Todas as minhas experiências cotidianas podem ser compartilhadas com Ele. Buscá-Lo não deve ser um evento no meu dia – se Ele é o motivo da minha vida é justo que eu dedique a Ele cada segundo de todas as minhas atividades.

Penso que buscar a Deus não significa que Ele está distante e, que por isso, agora preciso estabelecer alguma forma de contato que chame a Sua atenção. Pelo contrário, creio que buscar a Deus é a reação objetiva à presença Dele. Eu O busco porque Ele está presente. Eu O procuro porque Ele já me encontrou. Eu O amo porque Ele me amou primeiro. Buscar a Deus é uma resposta à Sua busca por nós. É lembrarmos que um novo e vivo caminho para chegar até Deus foi construído por Ele mesmo. Não há restrições. Ele derrubou toda barreira de separação.

O mundo tem sede de Deus porém não consegue O perceber. Nós, peregrinos nesta terra incrédula, temos essa grande responsabilidade - uma vez que Deus está presente em todos os lugares precisamos torná-Lo visível.

“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor e farei mudar a vossa sorte.” Jeremias 29:11-14ª

segunda-feira, outubro 01, 2007

O poder do silêncio

“Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso em silêncio.” Lamentações 3:27

Conta-se a história de um turista que, ao observar um devoto judeu orando diante do Muro das Lamentações, ficou curioso com aquele momento. Quando o judeu terminou de orar, o turista se aproximou e perguntou:
- Não pude deixar de reparar o seu momento de oração. Vi com que fervor o senhor estava batendo no peito e levantando as mãos e fiquei curioso; para que o senhor ora?
O judeu responde:
- Oro pela justiça. Oro pela saúde de minha família. Oro pela paz no mundo, especialmente em Jerusalém.
- E como você se sente? - quis saber o turista.
- Me sinto como que falando com uma parede.
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Acredito que todo cristão em algum momento da sua peregrinação já teve o mesmo sentimento do judeu da história acima. Por quase dois anos acompanhei a luta do meu sogro contra o câncer. Durante esse longo período nossa família trilhou diversos caminhos sempre na tentativa de alcançar o favor de Deus. Às vezes ficávamos eufóricos e esperançosos quando alguém contava um sonho que interpretávamos como resposta de Deus.Também ficávamos confusos e sem reação a cada exame que indicava a progressão teimosa da doença. Lutamos até o final. Oramos até o final. Então, veio o silêncio.

Neste pensamento, estou chamando de silêncio aquele momento de total perplexidade em que nossa fé se depara com uma encruzilhada. Se apresentam dois caminhos distintos: o primeiro é o caminho que afasta nossa fé de Deus. È o caminho da racionalidade humana. O seu destino é a incredulidade, o esfriamento e a decepção com Deus e com a Sua vontade. O outro caminho segue uma direção diametralmente oposta: é o caminho da fé irrestrita; do prosseguir mesmo não compreendendo os motivos; É o correr em direção a Deus com mais vigor e intensidade do que antes.

Acredito que todos os filhos de Deus irão experimentar em sua jornada esse momento de absoluto silêncio em que um caminho precisa ser escolhido. Aconteceu isso com Jó. Depois de muito falar, a escritura diz: “Fim das palavras de Jó” Jó 31:40b. Apenas quando Jó chegou no seu momento de silêncio a sua história mudou de curso. Assim como aconteceu com Jó nem sempre o Senhor nos explicará os “por quês” mas precisamos crer que em todas as coisas que nos sucedem existe um “para que”.

C.S.Lewis dizia que o sofrimento é o alto-falante de Deus. Parafraseando sua figura eu diria que quando a nossa alma fica em silêncio o Senhor nos oferece uma luneta para O contemplarmos de uma maneira mais próxima. Isso só é possível quando nos esvaziamos de toda lógica humana. Quando abandonamos os questionamentos oriundos de pensamentos corrompidos, desvirtuados e completamente limitados.

Falando assim parece ser fácil, mas definitivamente não o é. As incertezas tentam violentamente afundar nossa fé no sombrio mar da incredulidade. São nesses momentos de crise que nossa alma precisa se decidir como usaremos a luneta. Se tentarmos usar a luneta para olharmos a nós mesmos, veremos a Deus com o lado errado da luneta. Um Deus reduzido, pequeno e distante será toda a nossa conclusão.

Sei que a minha fé ainda passará por muitas provações. Sei que o Senhor não responderá todas as minhas indagações na velocidade ou na maneira que espero. Sei que ainda vou espernear, questionar e reclamar bastante. Porém na minha experiência, posso testemunhar que todas as vezes que passo por essas crises uma luneta se me apresenta. E surge uma possibilidade de enxergar a Deus de uma maneira renovada. Então, humilhado pela minha pequenez permaneço em silêncio. Resignadamente, enxugo as lágrimas dos olhos e aproximo-me da luneta como que reconhecendo que não existe outro remédio para minha alma. E, meio que despretensiosamente, começo a procurar por Ele. Ao procurá-Lo já começo a me sentir melhor. Minha fé se anima, meu coração se esquenta e a esperança renasce. Finalmente o encontro! Meu espírito sente a Sua presença e se enche de gozo. Corro em Sua direção agarrando-me em Seus braços. Ao abraçá-Lo o Espírito Santo dentro de mim confirma que estes são os braços de meu Pai. Já aquietado em Seu colo, com meu cálice transbordando de um sentimento inexplicável percebo que estou em paz. Já não preciso de respostas ou de explicações. O silêncio já não me incomoda mais. A Sua graça me bastou.

Então, o silêncio finalmente é quebrado com a chegada da adoração.

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações sou exaltado na terra.” Salmos 46:10