terça-feira, fevereiro 19, 2008

Santificação – Parte II (Vontade)

“Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.” Apocalipse 22:11

Semana passada iniciei um pensamento sobre atitudes que dificultam nossa santificação. Dividi então o pensamento em três partes: nossa atitude quanto a razão, vontade e emoções. Hoje gostaria de continuar dizendo um pouco sobre nossa vontade.

Para nós é muito difícil fazer qualquer coisa contra nossa vontade. Ela funciona como um motor propulsor que impulsiona nossas ações. É muito comum quando conversamos com um peregrino desanimado perceber que sua vontade em prosseguir foi abalada. Como já comentei semana passada, não sei por onde se inicia o processo interno de esfriamento: se pela nossa razão ou vontade ou emoção. Mas quando uma dessas bases fica abalada o tripé perde sua firmeza e, mais cedo ou mais tarde, sucumbirá.

Vou dar um exemplo muito particular que talvez os que já tentaram emagrecer entenderão. Toda vez que minhas calças ficam apertadas sei que está na hora de fazer regime. Preciso cortar alguns excessos: diminuir o tamanho do meu prato no almoço, esquecer dos doces e encontrar na minha agenda tempo para fazer exercício físico. Enfim, preciso emagrecer. Agora o regime é absolutamente contra minha vontade. Fazer regime me deixa mau humorado e resmunguento. Sinto falta do chocolate, do sorvete e das guloseimas. Mas mesmo assim me esforço e consigo fazer regime. É interessante o que acontece comigo quando entro nesse processo. Já no dia seguinte estou me sentindo melhor. Talvez eu tenha perdido apenas 0,5 kg mas já me acho mais bonito. Passo a sentir o efeito do sacrifício e percebo que valeu a pena. Percebo que minha atitude me ajuda para determinar minha vontade. Descubro que meu problema não é o peso em si mas como lido diariamente com meus hábitos e costumes. Porque o problema excede a questão da estética e afeta pontos mais relevantes como o bem estar, a disposição e a saúde. Descubro afinal que minha vontade pode ser dominada por outra vontade maior.

Quando penso nesse tema percebo como somos facilmente enganados. Porque confundimos vontade com desejo. Esperamos que, como em um passe de mágica, nossa vontade de trilhar o caminho estreito e apertado do evangelho volte com o mesmo vigor de outrora. Mas a vontade significa muito mais do que querer; vontade nos fala de tomar as decisões certas, de agir corretamente. Não é por acaso que no dicionário palavras como “coragem” e “firmeza” são sinônimos para vontade.

Sendo assim o inimigo alcança grande vantagem dentro de nós. Ele nos acusa por não termos vontade em seguirmos ao Senhor. Com isso, ficamos muito sensíveis a falta de desejo e começamos a nos sentir diferentes dos outros achando que o problema está apenas em nós. Não percebemos que a verdadeira vontade não se baseia no desejo mas sim na obediência. E, como acontece geralmente com quem não quer fazer regime, preferimos estar em um lanchonete comendo uma coxinha cheia de gordura à estar na academia fazendo exercícios. Por isso, não é de se estranhar que uma das primeiras reações do nosso esfriamento espiritual é nos afastarmos dos irmãos. Alguns, se afastam porque se sentem culpados demais por não conseguirem sentir desejo. Pensam que são os únicos que precisam emagrecer e que todos os demais são esbeltos e saudáveis. Sentem-se como uma pessoa com obesidade mórbida no meio de modelos durante um desfile de moda. A outra reação, igualmente errada e ainda mais perigosa, é a aversão que criam pelos demais. A pessoa reconhece que ela não faz regime mas acha ridículo o esforço dos demais para emagrecer. Ela diz que prefere assumir suas gordurinhas à passar o resto da vida lutando pateticamente em perder algumas gramas como os outros na assembléia, mas que nunca perdem. E, em nome de uma sinceridade, se afasta vangloriado-se de que pelo menos é autêntica. Sua frustração pessoal é canalizada contra outros. Talvez seja porque o seu próximo funcione como espelho refletindo não o que ela deveria ser, mas do que ela deveria fazer.

Como disse anteriormente, hoje vejo que minha santificação depende mais da minha obediência do que do meu desejo. Como acontece quando faço regime, sei que não posso andar orientado pela minha vontade humana, mas sim pelo que é certo e saudável. E quando isso acontece, quando passo um dia na presença do Senhor submetendo-me à Sua vontade, sinto-me um pouco mais santo mesmo sendo um grande pecador.

“Não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” Efésios 6:6

“Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação.” I Tessalonicenses 4:3

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Santificação - Parte I ( Razão )

“Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.” Apocalipse 22:11

Infelizmente muitos peregrinos têm esquecido do seu chamamento. Eles voltam seus olhos para o que ficou pra trás com saudade das cebolas e da carne do Egito. Esqueceram da escravidão de outrora e do tirano faraó que os oprimiam. Ao longo desses anos de peregrinação percebo alguns sinais comuns que acompanham esses irmãos. Geralmente, eles passam a ter uma atitude inadequada ou para com a razão ou para com a sua vontade ou para com suas emoções. A impureza entrará por uma dessas portas e contaminará toda a alma. Então, na tentativa de organizar melhor meus pensamentos dividi esse assunto em três partes, sendo que esta primeira postagem será um breve pensamento sobre nossa atitude para com a razão.

Deus dotou o homem de raciocínio e mente. Ponderamos e analisamos as situações e tomamos decisões. Como conseqüência, nos tornamos resultados dos nossos pensamentos. Alguns passam a conhecer, estudar e a entender sobre como diagnosticar doenças então tornam-se médicos. Outros dedicam-se a montar e desmontar veículos e tornam-se mecânicos. Muitas coisas que lemos nos servem como trilhas para que encontremos o nosso próprio caminho. Isso acontece não apenas com o nosso trabalho mas também com as nossas convicções pessoais. Porém, apesar de Deus nos capacitar com a razão, a vida cristã extrapola completamente os limites da razão.

Têm-se mostrado danoso quando os cristãos desejam basear sua vida de fé em fatos racionais. Querem explicação para tudo. E se não encontram a resposta que satisfaça sua curiosidade tornam-se inquietos e perturbados. Pensam, equivocadamente, que precisam entender todas as coisas para que elas sejam reais. Como Judas advertiu, passam a difamar aquilo que elas não entendem porque usam seu raso conhecimento como referência do que é verdade ou não. Saber se Adão tinha umbigo ou se pingüim entrou na arca de Noé não é relevante para que tenhamos uma fé cristã sadia e sólida. “As cousas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29). Em nenhum momento Deus garantiu ao homem responder a todas as suas perguntas, muitas coisas estarão encobertas para nossa razão. E devemos estar aquietados quanto a isso.

Pensemos a respeito de Deus. Será mesmo que o homem tem a capacidade de entender a Deus em Sua plenitude? Como compreender um ser auto-suficiente e eterno? As coisas divinas são infinitamente superiores à sabedoria humana e apenas aqueles que abrem mão da razão poderão experimentá-las. Paulo diz aos Coríntios: “a minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana” (I Co 2: 4-5). E um pouco mais à frente Paulo menciona que “jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (vs 9). Definitivamente existem coisas que excedem nossa razão. Uma delas é a nossa vida no eterno lar. Jó também ousou questionar a Deus com suas perguntas e indagações. Deus então se apresenta a Jó e passa também a apresentar algumas perguntas. Disse Deus: “quem é este que escurece meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge pois teus lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber: onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento” (Jó 38:2,3). Após algumas dezenas de perguntas Jó percebeu o quanto a sua razão distava da razão de Deus.


Sinto-me incapaz de ajudar irmãos que desejam debater racionalmente sobre as coisas espirituais. Eles são como um pesquisador que passa a estudar a vida no fundo do mar usando uma rede cujo o tamanho entre os fios é de 10 centímetros. E que, após ter apanhado e analisado muitos peixes, conclui que não existem criaturas no oceano com menos de 10 cm de comprimento. A pesquisa pode ser sincera porém será infrutífera se o instrumento de aferição for inadequado. Se usamos a rede da razão para apanhar uma visão particular da verdade não devemos nos surpreender se ela não conseguir apanhar evidências mais exatas acerca de Deus. Por isso, não é raro ver irmãos naufragarem na fé e na santidade porque entraram em um caminho perigoso aonde se busca racionalizar todas as coisas. Que não se surpreendam quando, ao chegarem diante de Deus, descobrirem que o conhecimento que detinham sobre o oceano na verdade se restringia ao conhecimento de um pequeno aquário cuja suas conclusões não passavam de pequenos peixes. Alguns vivos e outros tantos já mortos.


“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu a Ele para que lhe venha a ser restituído? Porque Dele e por meio Dele e para Ele são todas as cousas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém.” Romanos 11:33 - 36

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Escolhas

“Pela fé Moisés quando já homem feito recusou ser chamado filho da filha de faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado (...) porque contemplava o galardão.” Hebreus 11: 24 – 26

Li sobre uma pesquisa realizada na Universidade de Stanford no final da década de 1960. Foram dadas às crianças entre quatro e cinco anos um belo chocolate. Porém, se elas pudessem esperar de 15 a 20 minutos (uma eternidade para uma criança) sem comer o chocolate elas ganhariam dois chocolates. Após explicar a proposta o pesquisador “dava uma saidinha” . Imagine-se observando a cena por trás de uma janela de vidro espelhado: para algumas crianças, não houve espaço entre o estímulo e resposta – era como se houvesse um cordão entre a porta e o chocolate à boca. No momento em que o pesquisador saiu da sala e fechou a porta – o chocolate desapareceu rapidamente na boca. Para outras crianças dava para ver a luta! Elas queriam comer o chocolate imediatamente mas também queriam mais um chocolate. Algumas crianças fingiam que o chocolate não estava lá e vagavam pela sala, outras cantavam e falavam sozinhas. O interessante da pesquisa foi que essas mesmas crianças voltaram vinte anos depois e os pesquisadores constataram que aquelas que resistiram aos seus impulsos e esperaram pela recompensa dos dois chocolates mostraram melhores aptidões sob estresse, eram mais confiantes e dignos de confiança. E marcaram, em média, 200 pontos a mais no Teste de Aptidão Escolar (SAT) o exame de admissão ao curso superior.

Lendo sobre essa pesquisa voltei meus pensamentos a velhos dilemas (já escrevi algo parecido no pensamento intitulado “Trade-offs”) mas fazer as escolhas certas nos momentos certos são decisivos. Minha história será contada pelas escolhas que fiz na minha vida: a profissão que escolhi, o casamento, os amigos, o estilo de vida, as prioridades... tudo é definido pelas minhas escolhas. Geralmente nossas escolhas erradas só serão percebidas futuramente. Agora, por que muitas vezes fazemos as escolhas erradas? Talvez uma das respostas seja porque estamos olhando apenas para o que está perto. Estamos pensando apenas no “chocolate” que está em nossas mãos e não consideramos que existe uma recompensa muito maior logo ali na frente para os que obedecem e se submetem.

Penso nas escolhas de Moisés, neto do homem mais poderoso da época (Faraó) , herdeiro do trono do maior império mundial (Egito) escolheu ser maltratado junto com o povo de Deus ao invés de usufruir dos “prazeres transitórios do pecado” . Essa escolha inexplicável pela razão humana só pode ser compreendida na ótica divina... Moisés “contemplava o galardão”. Quando chegamos ao Novo Testamento e lemos sobre Moisés transfigurado conversando com o Senhor Jesus no monte (Mt 17) podemos ter uma parda noção que Moisés fez as escolhas certas.

Deus criou o homem com o livre-arbítrio. Isso significa que somos responsáveis pelo nosso futuro uma vez que serão as nossas escolhas que determinarão o nosso destino. Sendo assim, podemos ler a Bíblia sob a perspectiva das escolhas: lemos como Satanás escolheu o caminho da rebeldia, Adão da desobediência, Saul do orgulho e Davi da humildade. São muitas histórias. E cada um, dentro do seu contexto, precisou fazer sua escolha. Deus também precisou fazer suas escolhas: Ele escolheu o perdão, a salvação e a restauração da comunhão com o homem.

As vezes me sinto como as crianças da pesquisa... tudo o que desejo é comer o chocolate não me importando com as promessas infinitamente superiores que deixo de usufruir. Sei que todos os dias quando acordo eu preciso fazer algumas escolhas, olhar no espelho e responder: “hoje, a quem servirei?”. Atalhos, desvios e distrações se apresentam a cada momento. E, mais uma vez, preciso fazer escolhas. Já comi muito “chocolate” precipitadamente para saber que o melhor “chocolate” é aquele que é dado pelo próprio Deus ao Seu tempo. Sem dúvida é incomparavelmente mais gostoso.

Escolher servir a Deus é a única escolha que um peregrino pode fazer.


“Agora, pois temei ao Senhor, e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais (...) Eu e minha casa serviremos ao Senhor” Josué 24: 14 - 15