segunda-feira, abril 26, 2010

Hoje

“Portanto não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados” Mateus 6:34

Nesses dias de gravidez tenho ouvido de muitas pessoas o conselho de aproveitar ao máximo o “filhote” enquanto ele ainda é pequeno – “Porque o tempo passa muito rápido e, quando menos percebemos, o bebê tornou-se um adulto”. Realmente a vida passa muito mais rápido que percebemos e eu tenho um palpite para isso: é porque sempre estamos olhando para o futuro e não aproveitamos plenamente o presente. Talvez uma prova que sustente a minha tese é o fato de que ninguém ainda me aconselhou a curtir e a aproveitar esse período de gravidez. Geralmente olhamos apenas para frente e perdemos o dia de hoje.

Não nos enganemos com a aparência trivial do assunto: esse é um dos maiores males da nossa sociedade consumista ocidental. A angústia gerada pelo desejo de sempre ter “algo mais” faz-nos perder a alegria, paz e o gozo de desfrutarmos do que temos hoje. A propaganda enganosa e cruel projetada por Satanás e veiculada em todos os meios de comunicação que nos atingem nos induzem a acreditar que “ter” é mais importante do que “ser”. O que nos leva correr atrás do vento o tempo inteiro aceitando usar as pesadas algemas de uma vida escravizada pela promessa de um amanhã melhor. Porém, o hoje, nada mais é do que o amanhã de ontem e, de fato, o amanhã nunca chega.

Tenho a impressão que, todos nós, temos nossos momentos de lucidez quanto a esse fato. A grande tristeza é que geralmente tal momento se dá com clareza em momentos irreversíveis: quando enterramos nossos pais e percebemos que poderíamos ter gasto mais tempo com eles. Diante de um casamento destruído descobrimos que os gestos gentis e amorosos do cotidiano foram esquecidos e agora a pessoa que você tanto amava tornou-se uma estranha. Quando os filhos crescem e se vão deixando não apenas um quarto vazio na casa mas a sensação que poderíamos ter vivido mais plenamente todos esses anos passados. Ou quando, ao adentrarmos pelos portais eternos, descobrirmos que Deus Pai, O Eterno, é uma pessoa absolutamente desconhecida das nossas vidas ficando sempre à margem das nossas decisões, tempo e desejos. Como aconselha o pregador: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirão: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da boca, por já serem poucos e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem; como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce amendoeira, e o gafanhoto te for um peso e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântico junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Vaidade de vaidade, diz o pregador: tudo é vaidade.” Eclesiastes 12:1 – 8


O passado já ficou pra trás, não temos como mudá-lo. O futuro não nos pertence porque: “qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?” MT 6:27. É por isso que o conselho bíblico é para com o dia de Hoje: “Hoje se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” Hb 3:7 e outra vez: “exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje” Hb 3:13. Consagrar nosso dia à Deus e viver o dia presente plenamente sendo grato a Deus por todas as bênçãos e provações do cotidiano parece ser um bom conselho para que não tenhamos a sensação de que “a vida passou rápido e eu nem vi.” Como o Senhor Jesus nos aconselha não devemos andar preocupados com o amanhã, o dia de Hoje já possui as suas inquietações e alegrias.

Sei que a minha vida nunca mais será a mesma com a chegada do “filhote”. Não vou poder acordar sábado no horário que eu quiser nem jantar no sofá vendo TV. Um ciclo se encerrará e um novo se aproximará com suas sensações, alegrias e sacrifícios. Mas o que eu farei hoje? Vou ficar ansioso com o dia de amanhã e esquecer do presente? De jeito nenhum! Hoje eu vou viver cada momento da gravidez: comprar o enxoval, ler livros sobre educação de filhos, decorar o quarto e curtir o visual “barrigudo” da minha amada. É... terei um dia feliz. Hoje.

“Portanto vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios, remindo o tempo porque os dias são maus.” Efésios 5:15,16

segunda-feira, abril 19, 2010

Escolhendo o nosso rei

“Tomará o melhor das vossas lavouras e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e o dará aos seus servidores. As vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos seus servidores. Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens e os vossos jumentos, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos. Então, naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá.” I Samuel 8:14 - 18

Quando o povo de Israel pediu um Rei eles não pensaram nas muitas conseqüências: eles rejeitaram o governo de Deus. Eles desejaram imitar a organização das nações gentílicas sem analisarem o alto preço que pagariam.

No texto acima vemos Deus fazendo uma longa advertência ao Seu povo dizendo da responsabilidade na escolha de um rei. Estudando um pouco sobre a estrutura econômica e política de Israel podemos perceber que a maioria do povo vivia em grande pobreza enquanto que o rei e sua corte viviam de modo regalado e confortável. Deus nunca acompanhou tal pensamento e várias vezes condenou tal cenário em Israel. Isso poderia ser comum e aceitável entre as nações pagãs mas não entre o povo de Deus.

Fico pensando em quais lições espirituais podemos aplicar para a Igreja hoje. Será que estamos “coroando “ alguns homens para serem “reis” sobre nós? Será que não temos dizimado nossos dons, talentos e bênçãos espirituais para esses homens? Será que era para ser assim: nossas reuniões, nosso ministério, nossa vida cotidiana? Será que muitos não têm ficado empobrecidos para que poucos se enriqueçam? Assim como a monarquia rejeitou o governo divino será que o sistema clerical desenvolvido pelo cristianismo ao longo da historia também não tem feito o mesmo? Qual o rei que devemos escolher então? Interessante a profecia feita sobre o futuro rei de Israel feita ainda em Deuteronômio 17. Ali, nos é predito sobre o que Deus esperava do seu ungido: “ele não multiplicará para si cavalos. Tão pouco para si multiplicará mulheres, nem multiplicará para si prata ou ouro.” Finalmente podemos ver o verdadeiro caráter do soberano Rei. Nenhum rei de Israel cumpriu tal profecia. Até mesmo o servo Davi inclinou seu coração para as mulheres, riquezas e poder. Essa profecia se cumpre apenas em Cristo, aquele que tem apenas uma noiva – a sua Igreja. Aquele que se fez pobre para nos enriquecer. Aquele que se despiu de sua glória para nos vestir com vestes de salvação.

Apesar de toda contra-cultura que insiste que coroemos homens para reinarem sobre nós, precisamos nos levantar contra toda tirania humana e proclamarmos que o Senhor Jesus, e apenas Ele, é o nosso soberano Rei.

“O Senhor será Rei sobre toda a terra, naquele dia um só será o Senhor e um só será o Seu nome” Zacarias 14:9

(texto escrito para o blog: "Sobre Reis e Profetas")

segunda-feira, abril 12, 2010

Áreas de risco

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” I Coríntios 3:11

Nesta última semana acompanhamos a tragédia ocorrida em Niterói. Após muita chuva uma parte de um morro deslizou soterrando mais de 50 casas e causando a morte de quase 150 pessoas. Depois da tragédia tenta-se encontrar os culpados... A prefeitura alega que a população foi inconseqüente ao ocupar uma área sem nenhum planejamento habitacional. Durante 16 anos (1970 a 1986) tal área foi usada como um depósito sanitário. A cor preta da terra que deslizou é resultado da decomposição do lixo. Após o saturamento do local, a prefeitura transformou o “lixão” em um grande aterro. E, apesar da ilegalidade, algumas famílias passaram a construir suas casas sobre a região transformando-a em um lugar “habitável”. Por outro lado, a população carente culpa o estado por não prover locais seguros e, mesmo sabendo dos perigos, eles preferiram morar assentados sobre o perigo à morarem debaixo de uma ponte correndo outros tipos de perigos. Acontece que o tempo passa e todos os lados se acomodam. Outras prefeituras investiram na região, asfaltaram o acesso e fizeram obras de saneamento público. Novas gerações vieram e construíram casas melhores e maiores. Talvez os mais novos nem conheciam a origem do “Morro do Bumba”. Não sabiam que estavam levantando suas vidas sob uma área de risco.

Interessante perceber que o agente que desencadeou toda essa tragédia foi as fortes chuvas. Porém não vi manifestações, passeatas ou protestos contras as chuvas ou contra “são pedro”. Tais situações são inevitáveis e fazem parte de uma sentença maior que sobrevêm sobre esse planeta. “porque Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (MT 5: 45). A chuva pode ter sido o agente mas não a culpada. Milhões de outros habitantes da cidade também passaram pela mesma situação sem sofrerem qualquer dano porque estavam protegidos por uma construção segura.

Como mencionei no post “Como nos dias de Noé” em breve o juízo de Deus sobrevirá sobre todos os habitantes desta terra – sem exceção. Ninguém escapará d’Aquele que tem “olhos como chama de fogo e que sonda mente e coração”. “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm14:12). Naquele dia todas as coisas serão abaladas e apenas o que é inabalável permanecerá em pé (Hb 12: 25 – 29). Absolutamente tudo que não foi construído sob o correto fundamento, o qual é Jesus Cristo, desmoronará.

Nos meus momentos de lucidez tento entender a minha obstinação em insistir no caminho do engano e da mentira. Talvez olhando ao redor eu pense, assim como tantos outros, que tudo está como deveria estar. A casa é confortável: muitos quartos, limpa, mobiliada e cheirosa – porém foi construída sob outros fundamentos e tudo acabará por terra. Fico perplexo quanto a isto. Não sei o que responder... por que sou tão incrédulo em realmente crer de todo o meu coração, mente, alma e vontade à Palavra de Deus? Por que a minha vida não mergulha, pela fé, profundamente nas coisas celestiais? Gostaria muito de, um dia, poder dizer como o testemunho que li do famoso pregador Jonathan Edwards, ele disse: “jamais pude dar um relato de como ou por qual meio fui convencido, e nem de longe imaginar, nem na época nem muito tempo depois, que houve uma influência extraordinária do Espírito de Deus; eu simplesmente passei a enxergar mais longe, e minha razão aprendeu a justiça e a lógica da doutrina de Deus. Minha mente descansou nela; e dei fim a todas as contestações e objeções.”

Discernir hoje se estou construindo a minha vida no firme fundamento ou em uma área de risco fará toda a diferença no dia em que cair a chuva. Estar protegido e seguro em Cristo será bem melhor do que, um dia ao despertar, perceber que estou soterrado nas ruínas cheio de lixo ao meu redor.

“Todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia. E caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram de ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.” Mateus 7:26-27

segunda-feira, abril 05, 2010

Aflições de uma gestação

“Meus filhos por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” Gálatas 4:19

A mais importante e revolucionária noticia do ano para a minha casa é a chegada do meu primeiro filho previsto para Outubro. Eu e minha flor estamos muito felizes com a possibilidade de experimentarmos uma nova etapa da nossa peregrinação sobre esse mundo. A possibilidade de sermos progenitores de uma pessoa que nos será confiada pelo próprio Deus nos enche de temor mas de muita alegria também. Só que junto com a novidade vieram também os enjôos, o mal-estar, os vômitos, o cansaço, a fraqueza e a fragilidade. Dando uma rápida pesquisada descobri que tais fatores são bastante comuns nas grávidas e que tais situações acontecem devido às mudanças internas ocasionadas pela nova vida que está surgindo.

Passando por essa experiência pude refletir um pouco mais na figura que a Bíblia usa do nosso processo de santificação. Jesus Cristo, não é apenas o Emanuel “Deus entre nós” mas, através da obra do Calvário, Ele também é o “Deus em nós”: “assim habite Cristo em vossos corações, pela fé” (Ef 3:17), “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20), e “Cristo em nós é a esperança da glória” (Cl 1:27). E, assim como acontece com a grávida, a formação de Cristo em nós poderá nos levar a passar por algumas aflições, enjôos, desânimos e fraquezas mas todo esse processo tem como objetivo nossa santificação. Mais de Cristo menos de nós mesmos: “convém que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3:30). O apostolo Paulo menciona que, assim como uma grávida, sofria de dores de parto até que Cristo fosse plenamente formado nos gálatas. Também aos Colossenses, Paulo afirma que ainda existia a necessidade de preencher “o resto das aflições de Cristo na minha carne, a favor do seu Corpo que é a igreja;” (Cl 1:24).

Confesso que essa figura me espanta. O próprio Deus habita em mim e, assim como acontece com uma gestante, eu tenho que passar por algumas aflições para que a Sua vida se desenvolva perfeitamente transformando completamente o meu interior. Oh! Quão urgente é, compreendermos que essas aflições são necessárias para a nossa santificação! . Sabemos que outros desafios ainda virão e todos fazem parte das aflições que uma gestação proporciona. Percebi um fato interessante: ao longo desses mais de dez anos de casamento não me recordo de ter visto minha esposa tão abatida e esgotada por tanto tempo, porém, paradoxalmente, ela tem mantido uma alegria incontida, um sentimento de que toda essa situação tem um propósito. Cada vez que a Kezia saía do banheiro com a cara pálida, olheiras profundas, cabelo desgrenhado e aspecto abatido ela trazia um sinal não de morte mas de vida. Existia um testemunho silencioso de que esse processo é necessário para que haja também o nascimento de um bebê. Ela sabe que no final dessa história todo esse incômodo terá valido a pena. Penso que seja esse o pensamento paradoxal de Paulo quando ele disse: “ como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos;entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” (II Co 6:9-10). Apesar das aflições geradas pela vida de Cristo dentro de nós, um sentimento profundo de paz se ergue no espírito daqueles que tem permitido esse trabalho divino no seu interior.

Um dia todo esse processo terminará. Cristo será tudo em todos. Além de ser exaltado nos céus e coroado na terra Ele, finalmente, terá sido formado plenamente em nós.

“A mulher quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. Assim também agora vós tendes tristeza, mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.” João 16: 21,22