quinta-feira, maio 18, 2006

O combustível do cristão



Pela primeira vez em quase 10 anos de carteira de motorista cometi um erro bobo – deixei acabar a gasolina do carro. A luz amarela indicando a falta de combustível estava acessa fazia dois dias. Tentei chegar ao posto onde costumo abastecer, mas não deu. O carro começou a engasgar e a perder força até parar completamente dois quarteirões adiante. Já voltando pra casa não pude deixar de pensar no que ocorrera. O carro estava ótimo: pneus novos, freio, motor, câmbio, correias e tudo o que era necessário para que ele funcionasse perfeitamente, estava tudo OK. Tanto é verdade que quando coloquei 5 litros de gasolina no tanque o carro voltou a andar como se nada tivesse acontecido. Eu havia ignorado uma lei básica: sem combustível nenhum carro anda.

Da mesma forma, existe uma lei espiritual estabelecida pelo Senhor Jesus: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15:5). Tento imaginar o impacto dessa afirmação ao longo da história da humanidade. Os céticos poderão interpretar essa frase como uma bravata do Senhor; uma tentativa de criar dependência emocional nos seus pobres discípulos. Os auto-suficientes falarão que o Senhor exagerou um pouquinho no discurso em algum momento de empolgação. Os filósofos ressaltarão a eloqüente retórica do Mestre sem, contudo, se importarem com a seriedade do que foi dito. E, finalmente, penso nos fracos, naqueles que já falharam tanto que sabem que nada podem fazer por eles mesmos. Eles receberão essas palavras como um profundo consolo para suas almas.

Gostaria muito de me enquadrar no grupo dos fracos, porém, reconheço que, muitas vezes, resisto a essa afirmação e procuro achar forças em mim mesmo. Tento provar para mim e para os outros que tenho valor e que sou capaz. Esforço-me até “o carro começar a engasgar” até o momento em que o Espírito Santo acende a luz amarela em mim e me convence que sem Cristo nenhum fruto poderei produzir. “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim, o que detesto ” (Rm 7:15). Por que tento viver com as minhas forças, se aquele em quem tudo subsiste me oferece a força dele? Por que me afasto de quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos para aconselhar-me com a minha própria alma? Porque insisto em ter vida longe do autor da vida?

Quando a minha vida cristã está “engasgando” é fácil diagnosticar o problema. Está faltando o combustível do cristão: a vida de Cristo. Posso ter todo o “equipamento” necessário para dar frutos: inteligência, conhecimento, saúde, diligência, vontade, etc. Mas sem a vida de Cristo, nada de útil será produzido. Somente a vida de Cristo permitirá que meus talentos, dons, capacidades naturais, emoções e pensamentos trabalhem harmoniosamente com a vontade de Deus. Nego todo esse conhecimento teórico quando fujo da presença de Deus, quando paro de orar ou quando desobedeço aos seus mandamentos deliberadamente. Não tem jeito. Não farei nada de valor eterno se não permitir que a vida de Cristo se torne o combustível das minhas ações.

O Apóstolo Paulo faz uma afirmação que completa o pensamento do nosso Senhor: “Tudo posso naquele que em fortalece” (Fp 4:13). Aqui o Espírito Santo nos leva a meditar na mesma situação vista de uma outra perspectiva. Sem Cristo nada posso fazer, porém, em Cristo, tudo posso. Sem Cristo experimento fraqueza, em Cristo fortalecimento. É o milagre da obra divina transformando o que é inútil em um utensílio para honra, preparado para toda boa obra (II Tm 2:21). É o homem voltando a ser como foi idealizado.

Oro ao Senhor para que Ele tenha misericórdia de mim. Que meu coração não seja seduzido pelo meu orgulho próprio, ao contrário, com muita alegria quero depender do meu Senhor. Quero proclamar a esse mundo que já não sou quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim (Gl 2:20).

Espero ter aprendido a lição. Quando a luz amarela acender que eu possa ser humilde o suficiente para reconhecer o meu estado e, sem demora, voltar-me para Ele para ser abastecido com Sua vida. Pensando bem, oro pra que a luz amarela nunca mais se acenda.


“Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo (...) À meia noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro. Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as néscias disseram: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando.” Mateus 25:1,6-8